Post originalmente publicado no Cultura em Processo.


No artigo Past, present, and future in design for industry, John Heskett utiliza a seguinte frase: design is when designers design a design to produce a design. Nessa passagem o autor não tenta definir design, mas ao meu ver o faz com gigantesca habilidade. A frase é confusa e não diz absolutamente nada para quem não sabe o que significa a palavra design. Aliás, até para quem já tem alguma concepção sobre design, a frase pode beirar a insanidade ou a inutilidade. Mas eu acho que é por ai que as coisas devem caminhar.

Por exemplo, um dos cinco artigos mais citados do Journal of biomolecular screening é um tal de Fluorescence polarization and anisotropy in high throughput screening: perspectives and primer, o que eu não faço a mínima idéia do que seja ou sobre o que trate. Mal saberia esboçar um esboço de uma ínfima definição sobre essa área e não faço idéia do que trate tal artigo (por mais que ele deva ser uma importante referência nessa academia). E isso não me importa, assim como não me faz a mínima falta.

A questão é que não acho importante a preocupação em definir o design (ou definir qualquer outro campo, área ou profissão). Sinceramente não me preocupo com o que é design. Por ter formação nessa área consegui ver que os designers se consideram profissionais de suma importância para o mundo. Na introdução do livro What is graphic design? (obrigado, Sagaz, pela indicação), Quentin Newark afirma que se o design gráfico fosse banido, ou simplesmente desaparecesse da noite para o dia (…) tudo teria que ser sofrivelmente escrito a mão. Essa afirmação (e no parênteses, reticência, parêntese tem mais algumas previsões apocalípticas) me leva a pensar duas coisas: ou os designers são egoístas e realmente acreditam que o mundo gira em função deles, ou eles só estão se esforçando para se convencer que são úteis para alguma coisa nessa vida (o que tem lá sua utilidade).

Acredito ser infinitamente mais importante pensar que a produção do design é um fator importante num aspecto mais amplo de nossa sociedade, principalmente no campo cultural e no campo econômico. Inegável que é quase inconcebível um mundo sem produtos concebidos por designers. Assim como também é inconcebível um mundo sem a produção de micreiros. E temos também publicitários, artesãos, artistas etc. Cada um fazendo seu trabalho, e contribuindo para a cultural de nosso tempo. E é por isso que acho inúteis muitas das tentativas e esforços para definir o tal do design. Por um lado, quem tem que saber o que é design são os próprios designers - e esses por mais que não consigam escolher as palavras para cunhar uma definição, sabem muito bem o que é e como fazer design (afinal, são designers, oras). Por outro lado, não interessa para mais ninguém saber o que é design; interessa sim a contribuição que um designer pode trazer ao mundo – tanto quanto a contribuição que um cientista biomolecular, ou quanto a contribuição de qualquer outra pessoa, seja lá qual for a formação ou especialização profissional.

Ninguém quer saber o que é design, a não ser os egoístas (que acham que o mundo gira em torno deles) ou os egocêntricos (que querem garantir que seu campo seja valorizado). Para o resto do mundo o que de fato interessa é a produção do design – e, quem realmente gosta de design, é nela que deve focar seus esforços.