Nesse post faço a insanidade de listar nomes. Isso é uma merda. Certeza que na empolgação para escrever esqueci muita gente. Minhas sinceras desculpas a quem ficou de fora — me avisem e vou atualizando : )


Eu tive alguns bons comentários sobre o meu post da última semana, mas dois deles me chamaram mais a atenção.

Fiquei muito feliz especialmente ao ver que essas duas pessoas, o Ítalo e a Helena, gostaram do texto. São dois amigos sensacionais. Nunca fomos muito próximos, admito, mas desde que as conheci sempre as adimirei pela pro-atividade, pelo chegar chegando, pela força de não ter medo de por as próprias ideias na mesa.

O que me chamou a atenção nos comentários deles é que ambos sentem falta de um espaço para a gente falar de autonomia — obviamente a gente não se limita a nós três, mas sim a um sem número de pessoas interessadas nesse, digamos, estilo de vida. Ambos sugeriram criar algum espaço digital para isso, um grupo na rede social do Mark, um Slack, grupo de emails ou coisa assim.

Nas últimas 48h pensei muito no que eles me falaram. Não sei se cheguei a alguma conclusão, mas quero mesmo assim compartilhar com vocês algumas provocações que vieram a mente. Não é exatamente um não, isso não se faz ou um não conte comigo, mas o fato é que eu realmente acho que esse espaço, formalizado, não funciona.

Primeira coisa que pensei é que, como tentei falar no meu outro texto, autonomia só se torna real, tangível, sensível com ação, não com ideologia. Então acho que temos que dedicar nossos esforços mais a ações, e menos a discussões. Adoro o Linus (o homem que criou o Linux e o Git) quando ele fala talk is cheap, show me the code — é um bordão dele.

Bem ele, o cérebro de onde surgiu o exemplo máximo de que código aberto e colaboração pode dar certo (Linux), e o mesmo cérebro de onde surgiu a ferramenta que organiza toda essa colaboração (Git), vem nos dizer: não adianta ficar me falando que tua ideia é sensacional, me mostre como ela vai funcionar.

Ou seja, como seria esse espaço? Isso me leva a um segunda reflexão que pode soar um pouco egoísta. Talvez eu já tenha esses espaços digitais, minhas panelinhas, meus amigos com quem amadureci nos últimos 10 anos. Mas o curioso desses espaços é que nenhum deles vive sem um projeto prático, sem o lado mão na massa.

Com amigos como o Id, o João Vítor, o Pistoni, o Andrés, o Guga e outros fiz muitos freelas e tive inúmeros papos sobre como viver sem um emprego. Esse assunto era comum nas nossas conversas há uns 10 anos. Fui amadurecendo as incertezas da vida sem uma renda estável, as formas de negociar escopo, valores, de se proteger, de mostrar o valor em relações desiguais de contratação e assim por diante. Até hoje tenho neles um grupo totalmente informal — tanto que eles talvez nem se conheçam entre si — ao qual sinto que posso recorrer. Mas nunca fizemos uma reunião para discutir a vida sem emprego, a gente apenas vivia sem emprego e compartilhava as alegrias e tropeços do caminho.

Com amigos como o Larusso, o Joatan, o Galdino, o Marcinho e muitos outros fizemos muitos encontros. A gente não precisava de nenhum palestrante cinco estrelas para fazer valer a pena um encontro. A gente sempre teve a certeza de que podíamos aprender muito um com o outro. Muito mesmo. E assim fomos dando mais importância aos nossos papos, RDesigns e NDesigns, viagens, happy hours e qualquer forma de encontro. E é assim até hoje. Mas nunca falamos vamos discutir o poder dos encontros (por mais que trocássemos muitas ideias sobre isso). Apenas íamos e nos encontrávamos fisica e digitalmente quando tínhamos uma boa desculpa.

Mais recentemente com o Cabral, o Gabi, o Dani, o Victor, o Enzo, o Gui, a Mabel, o Henrique e, outra vez, o Larusso (dentre muitas outras pessoas) achei outro porto seguro para falar sobre uma vida mais autônoma. Juntos fizemos a Expedição Liberdade, o Mútuo, o Sistêmico. Me senti parte, dando uma mão no Estaleiro Liberdade, no Pizza Sessions, no Unlock, no Welcome to the Django, no Nós.vc e do Shoot the Shit. Nunca chegamos um para o outro e falamos: vamos discutir autonomia. Tivemos ideias nas quais acreditávamos, arregaçamos as mangas e colocamos a mão na massa.

Talvez, no parágrafo anterior, eu esteja sendo um pouco injusto com o Estaleiro Liberdade e com o Welcome to the Django. Seus criadores tem muito clara a ideia de empoderamento, de autonomia, e consideram as iniciativas focadas nisso. Mas acho que, ao menos em um primeiro momento, as pessoas chegam lá com outra coisa em mente: ou estão simplesmente perdidadas e tentando se encontrar (no caso do Estaleiro), ou estão querendo aprender a programar (no caso do Welcome to the Django) — e, claro, descobrem a autonomia ao longo do percurso.

Mas o importante é que tenho em todas essas pessoas e projetos minhas referências quando sinto aquela vontade de conversar sobre como hackear a vida. A partir delas ainda conheci outros grupos dos quais não participo tanto, mas que sei que estão lá, com projetos e ideias fervilhando: o pessoal da Polinize quando o assunto é uma pegada mais startupeira, o Pedro e o Fábio quando a coisa é mais enraizada na política, a Amanda para comunicação e periferia, o Alex para educação autônoma e mil e outros exemplos mais.

Curiosamente alguns lugares que se reunem só para discutir foram os que mais me frustaram, entre eles está a academia. Mas isso é assunto para outro dia.

A provocação, resumindo, é essa: eu não acredito muito em grupos para discutir x. Mas aprendi demais em grupos para fazer y. Afinal, talk is cheap, show me the code.

Se eu tenho algo a responder para meus amigos, é isso: não sei se daria certo. Pode ser até que dê, eu adoraria estar errado. Mas se eu pudesse dar um conselho seria: mão na massa. Comecem um projeto, se juntem a outro, chamem pessoas para perguntar as coisas que quiserem. Marque cafés e cervejas com perguntas claras (inclusive comigo!). Ache nessas conversas ideias para saírem do papel. Se juntem a hackathlons, a coisas como Good for Nothing ou Trade School. Se não tiver nenhuma perto, crie. E façam coisas. Fazer coisas diz muito sobre vocês — inclusive, e principalmente, para vocês mesmos.

Não importa se a ideia é nobre ou não, se vai dar certo ou não, se vai dar grana ou não, se vai mudar o mundo ou não. A ideia aí de cima, do whisky com poker não rolou. Mas não deixei de aprender bastante no caminho. De conhecer e de aprender mais ainda com quem se aventurou junto. Outras ideias ficaram pelo caminho, como o Whiskyton, projeto laboratório que criei para aprender Python). Nunca consegui voltar a ele para fazer uma interface melhor, ou para fazer jeitos mais refinados de achar bos uísques, ou de cadastrar novos uísques. Mas através dele conheci o Henrique, e mais um monte de amigos com quem aprendo Python até hoje.

Se querem bater um papo, tomar um café ou uma cerveja, estou aqui. Conversas profundas e significativas com pessoas são sempre boas. Mas isso dificlmente rola em grupo. Em grupo, normalmente acaba-se construindo uma igreja ou uma sala de aula se não se tem algo para por a mão na massa. Mas se querem só discutir, vou disfarçar e dizer que fui ali na esquina espalhar uns materiais da Shoot the Shit.