Post originalmente publicado na Data Science Brigade.


Fechamos uma fase importante da Operação Serenata de Amor — centenas de denúncias à Câmara dos Deputados, dezenas de desculpas dos deputados, mas milhares de reais devolvidos aos cofres públicos. E o que significou tudo isso? Além de casos anedóticos, nomes de políticos e algumas cifras que saltam aos olhos, também promovemos uma outra mudança muito importante: entendemos muito melhor o que todos nós, juntos, estamos fazendo.

Prometemos um robô que combate a corrupção e então nasceu a Rosie. Mas ela não combate a corrupção — ela é ótima, faz auditoria, passa um pente fino em milhões de reembolsos em questão de uma hora. Na nossa experiência ela reduziu uma lista de mais de 1,5 milhão de casos para apenas 3 mil que ela realmente achou suspeito. Esses três mil casos foram, então, analisados por humanos. Fomos nós, de carne osso, com polegar opositor e toda nossa subjetividade que olhamos esses casos e separamos quais realmente eram suspeitos e mereciam ser denunciados. Nós combatemos o mau uso de dinheiro público pelo deputados, não a Rosie — ao menos por enquanto.

Então começamos a entender que o arsenal tecnológico no qual nos amparamos era outra coisa. A ajuda da Rosie foi fenomenal para isso, mas no fundo todo nosso uso de ciência de dados, APIs, bancos de dados e plataformas web nos equipou para melhor exercer nosso papel de cidadão. Toda essa tecnologia fez os dados abertos mais significativos. E isso foi um marco.

Esse marco é, de certa forma, parecido com a internet antes e depois do Google: uma infinidade de informação existia na internet antes do Google, mas depois dele ficou extremamente mais fácil navegar por esse mar de informação, encontrar o que realmente buscávamos, o que era mais relevante para nosso intuito. A história é parecida com os dados abertos do governo: ter dados sobre todos os reembolsos feitos pela Cota para Exercício da Atividade Parlamentar — nosso foco nesse início de projeto — era um mar de informação tão grande que encontrar algo relevante ali era como procurar agulha no palheiro. Dados abertos são importantíssimos, mas nós, como cidadãos não conseguíamos dar significado à eles.

A transparência nos dados do governo é um passo fundamental, mas pouco efetivo por si só. Precisamos de tecnologias e interfaces para lidar com essa quantidade de informação. Se a ideia de transparência no governo prometia uma sociedade melhor, só disponibilizar um XML com 5Gb não resolve. A verdadeira expectativa de melhoria vem quando cidadãos conseguem realmente tirar proveito dessa transparência com os dados, quando cidadãos conseguem utilizar esses dados como forma de acompanhar o que nossos representantes estão fazendo. A transparência, pelo aspecto técnico, não leva necessariamente a um maior engajamento político; mas a tecnologia se mostrou fortíssima em nos (re)conectar com a esfera política. Ela deu sentido ao que a transparência tornou público, nos empoderando enquanto cidadãos.

A Operação Serenata de Amor não é uma caça às bruxas. É uma mostra de que não somos alienados politicamente. É uma prova de que a tecnologia que permite a transparência de dados pelo lado do governo tem que se mostrar presente também do lado do cidadão. Somente assim conseguimos exercer algum controle social sobre mandatos de 4 e 8 anos. E somente assim a transparência faz sentido como algo que pode construir uma sociedade melhor.

Por fim, se a tecnologia tem que estar do lado de cá, nos parece uma solução imediata apostar no código-aberto e em dados abertos. Operação Serenata de Amor desde o início se pautou na ideia de transparência. Nossa experiência nos últimos meses só confirmou que ela é o nosso pilar, não o combate ao mau uso de dinheiro público— esse é apenas um doce efeito colateral de cidadãos mais engajados cumprindo com seus direitos e deveres cívicos.


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